Mitos e verdades sobre usucapião de imóveis alugados

Criado em: 13 de abril de 2019   
Atualizado em: 11 de março de 2024   



Mitos e verdades sobre usucapião de imóveis alugados
Mitos e verdades sobre usucapião de imóveis alugados

A questão referente a usucapião de imóveis alugados é frequentemente debatida, suscitando dúvidas tanto para os proprietários quanto para os inquilinos.

Este artigo visa esclarecer esse tema complexo e fornecer orientações sobre as possíveis situações em que o usucapião pode ser aplicado a imóveis alugados. Ao final desta leitura, esperamos que você tenha uma compreensão mais clara das nuances legais envolvidas.

Usucapião de imóvel alugado: Entendendo os limites legais

É crucial ressaltar que a legislação brasileira estabelece uma clara limitação quanto à aquisição de propriedade por meio de usucapião de imóveis sob contrato de locação. Tal restrição é fundamentada no requisito essencial para a caracterização de usucapião, que é o desejo genuíno de se tornar o proprietário.

Quando um contrato de locação residencial é celebrado, o locatário está plenamente ciente de que a propriedade e o registro do imóvel permanecem sob a titularidade do locador. Nesse contexto, a relação inicia-se com a clara compreensão de que o imóvel está sendo utilizado mediante a autorização do proprietário, não revelando, portanto, a intenção de adquiri-lo.

É importante destacar que, mesmo que a locação perdure por um longo período, essa circunstância não confere ao locatário o direito de pleitear usucapião. Isso se deve ao fato de que a relação locatícia, por sua própria natureza, exclui o requisito essencial de posse com intenção de apropriação plena e exclusiva que é necessário para a configuração de usucapião.

Assim, a legislação é clara ao delimitar que a posse de um imóvel alugado, enquanto durar o contrato de locação, não é passível de se converter em propriedade por meio de usucapião. Esse entendimento é essencial para garantir a segurança jurídica nas relações locatícias e proteger os direitos legítimos das partes envolvidas.

Locação sem contrato formal

A legislação considera que mesmo na ausência de um contrato formal de locação residencial por escrito, o locatário iniciou a ocupação do imóvel sem a intenção de adquiri-lo.

Existem vários cenários que não permitem a solicitação de usucapião, incluindo:

Locação residencial com contrato formal;

Moradia com pagamento de aluguel, mas sem contrato formal;

Início da moradia com um contrato formal que encerrou há muitos anos e o locatário ainda reside no imóvel;

Início da moradia com um contrato formal que encerrou, e o proprietário não cobra aluguel há muitos anos;

Paradeiro desconhecido do proprietário;

Moradia iniciada por meio de um empréstimo de imóvel (comodato).

Portanto, o ponto crucial neste cenário é como a posse do imóvel foi estabelecida, ou seja, o início da moradia da pessoa que pretende solicitar usucapião.

Se a ocupação começou por meio de uma locação ou empréstimo, mesmo que tenha ocorrido há muitos anos, não é possível requerer usucapião.

Requisitos para usucapião: Entendendo os critérios necessários

Para compreender plenamente os critérios estabelecidos para a solicitação de usucapião, é fundamental examinar de perto os requisitos detalhados pelo Código Civil brasileiro. Essas diretrizes específicas delineiam os parâmetros que devem ser satisfeitos para que a aquisição de propriedade por usucapião seja considerada legítima. São eles:

1. Posse com intenção de propriedade: O indivíduo que almeja pleitear usucapião deve estar na posse do imóvel e ter iniciado sua moradia no local com a intenção explícita de adquirir a propriedade. Esse requisito essencial envolve a exploração do imóvel de forma exclusiva, assemelhando-se ao comportamento de um proprietário legítimo. Isso significa que o ocupante deve agir como se fosse o detentor legal, tratando o imóvel como sua propriedade, realizando melhorias, investimentos e mantendo-o de acordo com seus interesses.

2. Ausência de violência ou clandestinidade: A posse que se pretende converter em propriedade por meio de usucapião não deve ter se iniciado com o uso de violência ou de maneira clandestina. Em outras palavras, o ocupante não pode ter tomado posse do imóvel de forma agressiva ou ilegal, o que prejudicaria a caracterização da posse pacífica e contínua.

3. Posse pacífica e contínua: A terceira condição fundamental para a configuração de usucapião é que a posse seja pacífica e contínua. Isso significa que o possuidor deve manter a posse do imóvel de forma tranquila, sem disputas ou conflitos sobre a propriedade. Além disso, a posse deve ser contínua, o que implica que o ocupante deve permanecer no imóvel de forma ininterrupta ao longo do período exigido pela lei.

Cumprir esses requisitos é essencial para que a solicitação de usucapião seja válida perante a lei. A observância estrita desses critérios assegura que apenas aqueles que genuinamente ocupam um imóvel com a intenção de se tornar proprietários possam fazer uso dessa via legal para adquirir a propriedade.

No entanto, é importante ressaltar que, como mencionado anteriormente, a posse de um imóvel alugado, enquanto vigente o contrato de locação, não atende a esses requisitos, uma vez que a relação locatícia é baseada na autorização do proprietário e não na intenção de apropriação plena e exclusiva exigida para usucapião. Portanto, essa é uma exceção importante a ser considerada no contexto de usucapião.

Tipos de usucapião: Explorando as condições específicas

Usucapião, como mencionado anteriormente, é uma via legal pela qual um indivíduo pode adquirir a propriedade de um imóvel por meio da posse pacífica e contínua ao longo do tempo.

No Brasil, existem diferentes tipos de usucapião, cada um com condições específicas que devem ser rigorosamente atendidas. A seguir, detalharemos esses tipos e suas respectivas condições:

a. Usucapião extraordinária:

Este tipo de usucapião exige que o possuidor tenha a posse contínua e ininterrupta do imóvel por um período de 15 anos, sem oposição de terceiros. Vale destacar que a usucapião extraordinária não depende da existência de título de propriedade nem da boa-fé do ocupante. No entanto, o prazo pode ser reduzido para 10 anos se o possuidor estabelecer sua moradia habitual no imóvel, realizar obras significativas ou serviços produtivos no local.

b. Usucapião ordinária:

A usucapião ordinária requer que o ocupante tenha posse contínua do imóvel por um período de 10 anos. Além disso, é necessário que o possuidor esteja de boa-fé, ou seja, acredite de boa-fé que seja o legítimo proprietário. O possuidor também deve ter um "justo título", que é um documento que aparenta conferir-lhe a propriedade, mas posteriormente é comprovado como inválido. O prazo pode ser reduzido para 5 anos se o ocupante adquiriu o imóvel de forma onerosa com base em registro, mesmo que esse registro seja posteriormente cancelado. Outras situações que reduzem o prazo incluem estabelecer moradia no local ou realizar investimentos de interesse social e econômico.

c. Usucapião especial rural:

Este tipo de usucapião aplica-se a imóveis localizados na zona rural e com área não superior a 50 hectares. O possuidor deve comprovar que exerce atividade produtiva no local, seja por seu próprio trabalho ou pelo trabalho de sua família, e que tem moradia no imóvel. Além disso, o possuidor não pode ser proprietário de outro imóvel.

d. Usucapião especial urbana:

A usucapião especial urbana é destinada a imóveis situados na zona urbana com área não superior a 250 m². O imóvel deve ser utilizado como moradia pelo possuidor. Assim como no caso rural, o possuidor não pode ser proprietário de outro imóvel.

Esses diferentes tipos de usucapião foram estabelecidos para atender a diversas situações e necessidades, proporcionando um meio legal para que indivíduos adquiram propriedades nas circunstâncias adequadas. É fundamental respeitar as condições específicas estabelecidas para cada tipo de usucapião a fim de garantir sua validade perante a lei.

Lembramos que a posse de um imóvel alugado, enquanto vigente o contrato de locação, não se enquadra em nenhum dos tipos de usucapião mencionados, devido à natureza da relação locatícia, baseada na autorização do proprietário e não na intenção de apropriação plena e exclusiva requerida para usucapião. Portanto, esse é um ponto de atenção crucial a ser considerado.

Conclusão

Conforme discutido neste artigo, a solicitação de usucapião não é considerada válida se a pessoa que atualmente ocupa o imóvel o fez ciente de que não é o proprietário, como é o caso de locatários, caseiros, amigos que habitam imóveis emprestados, entre outros.

Referência Legal

Lei Federal 10.406 (Código Civil brasileiro)


Author: Gustavo Falcão

Gustavo Falcão

Gustavo Falcão, fundador da 99contratos, oferece soluções acessíveis e descomplicadas para o conhecimento jurídico.

Através de modelos de contratos personalizáveis, sua missão é garantir praticidade e segurança jurídica.

Sempre buscando aprimorar seus serviços e expandir suas áreas de atuação, Gustavo acredita na tecnologia como aliada para simplificar processos burocráticos e democratizar o acesso ao conhecimento jurídico.


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